sábado, agosto 15, 2009
Sangue
Faz um tempão que eu não posto. Finalmente achei um bom motivo para postar!! Não se assustem com o tamanho, okz? Essa história é de autoria do meu amigo cristão, escritor e pianista Will Campos!! Hope you like it!!



O início do assunto era esse. Gabriela Silva Martins, 24 anos, estudante de engenharia, exímia tocadora de violino, capitã da equipe feminina de basquete e falante quase fluente do italiano. Olhos verdes com de gato, cabelos tão ruivos quanto se pode imaginar, o corpo de 1,74M muito esmeradamente esculpido e a expressão de uma perfeita dama. Á primeira vista, pode parecer a mulher que todo homem desejaria ter para si. Nada poderia estar mais longe da realidade. Toda essa beleza e todos esses talentos eram apenas uma máscara para seu caráter egoísta, aproveitador e insensível. Ela não tinha coração, ela não era humana.
Embora ela mesma não fosse absolutamente capaz de se apaixonar, ela poderia, ainda que involuntariamente, conquistar o coração de um homem. Esse foi seu erro. Ela era incapaz de amar, mas, como humana, tinha suas carências e se aproveitava assim de todo homem que pudesse. Pobre Gabriela. Por que tinha que correr atrás do homem errado?
Era uma noite fria e chuvosa. Talvez fosse ocasião para ficar em casa tomando leite quente e assistindo a final do campeonato nacional de Patinação Artística. Mas não para pessoas como Gabriela. Aproveitou a noite para ir ao Arcade. Enquanto inocentemente jogava Pac-Man, não pôde deixar de notar que muitas pessoas estavam se reunindo ao redor da máquina á sua frente. Resolveu verificar o que se passava. Sentiu-se imediatamente atraída por aquele jovem rapaz de 1,90M e cabelos escuros que jogava Gradius. Mas ele não apenas jogava, como também dominava o jogo da forma como só um mestre faz. Seus dedos se moviam tão rápido quanto uma máquina de costura e seus olhos fitavam a tela tão profundamente que parecia que sua alma estava no jogo. Sua concentração era impressionante.
No entanto, o recorde já estabelecido pelo jogo era maior que a pontuação dele. O dono do anterior recorde estava por perto e resolveu olhar a confusão. Percebendo que o garoto tinha capacidade para superar o recorde e ia superar o recorde, o grandalhão musculoso de mais de 2M de altura todo tatuado abriu caminho entre as pessoas que assistiam ao jogo e empurrou o jogador, derrubando-o no chão. Isso bastou para que as palavras GAME OVER aparecessem escritas na tela.
- Esse jogo é meu! - Gritou ele. Em resposta, o homem se levantou e olhou o outro que o havia derrubado, dizendo:
- Você realmente estava com medo que eu superasse seu recorde. Mas isso não é atitude de homem. De qualquer forma, já provei ser melhor que você.
- Ninguém é melhor que eu no Gradius!- Exclamou ele, agarrando o rapaz pela blusa.
- Tire suas patas sujas de mim. - Solicitou, calmamente.
- Você quer brigar, moleque?
- Com você? Nem vale a pena. - Bastou para que o punk direcionasse um soco certeiro no rosto do homem. Quando o punho estava a apenas poucos centímetros, ele agarrou a mão do homem e, puxando-o pelo braço para o seu lado, acertou um soco na sua axila, o que deslocou o seu ombro. Depois disso, ergueu o brutamonte e o jogou por cima da máquina, fazendo-o cair no outro corredor. Essa demonstração extraordinária de força física provou que o jovem tinha uma força muito maior do que se esperava para o seu porte, embora, de fato, ele fosse musculoso.
- Tudo bem, está tudo bem. - disse ele - Eu não quero confusão, já estou indo embora. - E então se dirigiu para fora do Árcade, enquanto todos o olhavam, assustados. Gabriela não teve dúvidas. Saiu imediatamente do Arcade e o seguiu debaixo da chuva.
- Ei, ei, espere! - Gritou ela. - Homem virou-se e viu a moça com uma capa correndo em sua direção. Parou e esperou até que ela chegasse perto.
- Eu vi o que aconteceu lá no Arcade - disse ela, ofegante. - Você deve ser um homem muito forte, além de ser um expert no Gradius. - E então abriu um sorriso. Ele sorriu de volta para ela, e então respondeu:
- Naturalmente. Eu cresci jogando videogames.
- Sério?
- Sim. - Então, estendendo a mão, disse-lhe:
- Meu nome é Gabriela.
- Sou Marcos. - respondeu ele, apertando a mão dela. Esse foi o primeiro golpe. Os dois se refugiaram da chuva num ponto de ônibus e ficaram conversando sobre videogames. Gabriela não entendia muito do assunto, mas jogava só para passar o tempo. Já Marcos era um especialista. Ele conhecia muito bem os jogos e tinha terminado muitos. Assim, mesmo a conversa dos dois sendo breve, Marcos ensinou muitas coisas a Gabriela. Ele parecia muito empolgado falando de “Megaman X”, quando um ônibus vermelho se aproximou e então a garota interrompeu, dizendo:
- Esse é o meu ônibus. Eu tenho que ir agora, mas foi um prazer te conhecer, Marcos.
- Que pena. - Disse o rapaz.
- Mas você pode me ligar! - Então, quando o ônibus estava já parado com a porta aberta a esperá-la ela lhe entregou um pedaço de papel que havia tirado de sua bolsa, na qual estavam escritos seu nome e telefone e então se foi.
Gabriela queria se aproveitar de Marcos, porque ele era um homem de aparência muito boa. Esse foi o pior erro de sua vida. O tempo foi passando e Gabriela nem se preocupava com Marcos, porque tinha muitos outros homens com quem se ocupar. Rapazinhos que ela levava ao seu apartamento para fazer coisas horríveis. Apartamento esse que lhe fora necessário roubar o cartão de crédito da carteira do pai para pagar a entrada, mesmo esse estando em dificuldade financeira na época, o que lhe obrigou a vender seu próprio carro para sair do abismo. Isso, porém, não pesava nem um pouco na consciência de Gabriela. Por que haveria de se preocupa com seus pais, agora que morava sozinha?
Cinco dias se passaram e ela finalmente recebeu um telefonema de Marcos, o que a deixou muito empolgada.
- Ah! O garoto do Arcade. Que bom que você ligou!- Ela disse muito sorridente ao telefone.
- Fiquei muito ansioso pra te ver de novo, Gabriela. - E ele foi então direto ao ponto. - Você quer se encontrar comigo de novo?
- Claro que sim! Eu adoraria. - Disse ela. - Naquele mesmo Árcade?
- Naquele mesmo Arcade.
- Ótimo! Quando?
- Eu estava pensando no domingo á tarde.
- Pra mim está ótimo. Obrigada. - Desligou o telefone imediatamente. Dali em diante ficou muito animada com a expectativa de revê-lo. Quando a data predeterminada chegou, os dois se encontraram na frente do Arcade, que estava fechado por ser domingo. Ela desceu do táxi do outro lado da rua e, vendo-o parado ali, gritou:
- Ei, Marcos! Aqui! - Correu até ele e o abraçou ternamente do mesmo modo como uma criança faria. Ninguém que os olhasse naquele momento desconfiaria que ela tencionava se aproveitar dele.
- Vamos tomar um café? - Sugeriu Marcos.
- Ótima ideia! - disse Gabriela.
Acatando á sugestão, segurou a sua mão enquanto os dois andavam pela rua, demonstrando uma intimidade que eles não tinham. Mas Marcos consentiu porque gostava, embora hesitasse um pouco no começo.
Os dois conversavam um pouco sobre videogames no começo enquanto tomavam café numa cafeteria que ficava na mesma rua do ponto de ônibus em que haviam se refugiado em seu encontro anterior. Mas depois de falarem um pouco de videogames, Marcos começou a falar sobre como gostava de ler livros como “Manifesto Comunista” de Karl Marx e Friedrich Engels ou “A Luta Pelo Direito” de Rudolf van Ihering. Marcos havia cercado crescido de livros e videogames. Eram as coisas que ele mais gostava na vida.
Fora criado numa família Batista, mas nunca gostou de ir á igreja. Marcos tinha apenas onze anos quando seu pai morreu numa loja de conveniência de um posto de gasolina baleado na cabeça em decorrência de um assalto á mão armada. Pouco depois, as pessoas a quem o pai de Marcos devia muito dinheiro começaram a cobrar esse dinheiro da mãe e, visto ela não ter como pagar, estupraram-na diante dos olhos de seu filho. Um braço engessado por seis meses e cegueira parcial do olho esquerdo é o preço que o garoto teve que pagar para proteger a sua mãe.
Esses dois episódios em sua vida o fizeram abandonar a crença em Deus. Aos catorze anos fugiu de casa e foi morar com o tio, irmão de sua mãe. Por causa de seu trauma de infância, tornou-se um jovem reprimido e violento, o que explica seu anterior comportamento no Arcade. Apesar disso, suas habilidades tanto físicas quanto mentais se tornaram extraordinárias, quase insuperáveis. Suas notas na escola estiveram sempre entre as mais altas. Também teve aulas de caratê por um tempo e se mostrou um dos melhores alunos de sua turma, sempre com sua frieza.
Por não ter amigos, Marcos ficava o dia todo lendo livros e jogando videogames. Gostava muito das obras de Platão, Shakespeare e Kant, mas o seu ateísmo o fez desenvolver um gosto especial por Karl Marx, o homem que disse que a religião é o “ópio do povo”.
O ateísmo foi também um fator que o identificou com Gabriela, visto essa também não acreditar em Deus por motivos semelhantes. Gabriela foi criada por pais que acreditavam em Deus, embora não tivessem nenhuma religião específica. Mas por ver frequentemente o abundante sofrimento e a maldade no mundo, ela também deixou de acreditar, embora, no caso dela, ela não tenha sido tão diretamente afetada como no caso de Marcos. Gabriela era a mais nova de três irmãs. Ela nem sempre fora uma pessoa tão ruim e aproveitadora quanto era naquela ocasião. Era e escondia, apenas para ganhar o favor de Marcos. Mas, com o tempo, ela passou a levar a sério o que diz certo poema de Luís de Camões:
“Os bons sempre vi passarno mundo graves tormentos;e, para mais m’ espantar,os maus sempre vi nadarem mar de contentamentos.”
- Eu também gosto muito de Karl Marx. - disse Gabriela.
- Sério? - disse Marcos, surpreso. - Qual o livro dele que você gosta mais?
- “Manuscritos Econômico-Filosóficos” - respondeu a garota. - E você gosta de Mark Twain?
- É um gênio! - E os dois riram.
Com um passado tão triste, não é de admirar que Marcos se sentisse tão bem ao lado de Gabriela. E ela também. Ela nunca havia conhecido um homem tão especial como Marcos. Eles poderiam ter sido felizes juntos. Poderiam.
Aquela tarde de domingo que eles passaram juntos foi muito agradável aos dois. Gabriela já tinha em mente que com certeza ia conseguir seduzi-lo. Quando já havia anoitecido, ela lhe disse:
- Agora eu tenho que ir. Tenho aula amanhã.
- Eu entendo. Mas eu espero poder vê-la de novo, Gabriela. - Ouvindo isso, ela sorriu.
- Pode ter certeza de que nos veremos de novo. - disse. - Até mais, Marcos. - Dizendo isso, virou-se de costas e seguiu seu rumo.
Então o tempo passou. Ele ligou de novo para ela. Depois de um tempo, começaram também a trocar e-mails. Gabriela se esforçava para ser uma pessoa tão agradável quanto possível, para realmente conquistar o coração do rapaz. Eles foram grandes amigos durante muito tempo, mas Marcos não manifestou o interesse romântico que tinha nela. Certa noite Gabriela convidou Marcos para ir ao cinema junto com alguns amigos dela. Quando Marcos estava na fila para comprar doces, Gabriela disse-lhe que iria ao banheiro. Como é de praxe duas mulheres irem ao banheiro juntas, uma amiga de Gabriela a acompanhou.
- Aquele Marcos realmente é um gatinho. - disse a amiga, na ocasião. - Você pretende fazer com ele o mesmo que fez com. . .- citou em seguida o nome de pelo menos dez colegas de faculdade de ambas, mas foram apenas os que ela conseguiu lembrar. Em resposta, Gabriela deu um grande sorriso e então lhe disse:
- O que você acha? O que espera de mim? Ainda mais com um rapaz tão bonito quanto ele.- Sim, de fato, essa é a resposta que se esperaria da devassa Gabriela Silva Martins. Mesmo assim, a amiga pareceu ter ficado intrigada com a resposta. Olhou profundamente nos olhos e perguntou:
- Gabriela, ás vezes eu fico realmente preocupada com você. Você não se cansa de se aproveitar dos homens?
- Não. - Foi uma resposta fria e simples, mas ainda assim, sincera.
- Você não pretende se casar algum dia? - replicou a outra.
- Casar? Pra quê? Ficar presa a um homem só? Nunca! Eu sou uma pessoa muito inteligente, e você sabe. Vou arranjar um bom emprego e ganhar muito dinheiro. Não preciso de marido. Além disso, eu garanto pra você, que eu nunca jamais vou me apaixonar. Vamos logo, o filme já vai começar. - Saiu assim deixando a outra sozinha no banheiro.
A noite passou assim rapidamente. Depois todos foram embora e, Gabriela, ao chegar em casa, foi direto para o chuveiro. Enquanto ainda estava no banho, ouviu o telefone tocar. Apressada, desligou o chuveiro, enrolou-se na toalha e correu para a sala para atender. Era Marcos quem falava.
- Você estava dormindo?
- Não, estava tomando banho.
- Ah! Me desculpe se interrompi.
- Não tem problema. Agora pode falar. - Marcos tomou fôlego. Era difícil para ele dizer isso.
- Eu notei que hoje no cinema você convidou amigas e amigos para nos acompanhar. Mas todos os “amigos” eram namorados das suas amigas. Apenas eu e você estávamos sem par. . .- parou, esperando que a moça dissesse alguma coisa, mas ela não disse nada. - Você tem namorado, Gabriela? - Perguntou ele, enfim.
- Sim. - disse ela. Marcos engoliu em seco. Pelo menos havia tentado. Valeu a pena. Como diz o ditado, “Erst ist verlieren die vordest liebe dass haben nie liebe.” (melhor é perder o primeiro amor que nunca ter amado.)
- Oh. Está bem, desculpe ter incomodado a essa hora. Boa noite. - disse ele, tentando esconder a decepção.
- Espere! Não desligue. - disse ela.
- Que houve?
- Você não quer conhecer o meu namorado?- a proposta parecia interessante.
- Como ele se chama? - O jovem não pôde deixar de perguntar.
- Marcos. - respondeu Gabriela, sorrindo do outro lado da linha telefônica. A decepção de Marcos se transformou imediatamente num contentamento incomensurável. Ficou feliz. Muito feliz. Lembrou-se de quando havia conseguido fazer o último dos treze finais de Chrono Trigger, porque a felicidade daquele momento era comparável á que ele sentia então.
- Você ia me pedir em namoro, não ia? Pois bem, já dei a minha resposta. - Foi o que ela falou.
Sim. Agora eles eram formalmente “namorado” e “namorada”. Gabriela era persistente e astuta. Sempre conseguia tudo que quisesse, principalmente no que se referia a homens. Nesse caso não foi diferente. Ela seduziu Marcos e fez com ele tudo que queria. Os dias se passaram, porém, e dessemelhante da maioria dos outros homens que Gabriela levou ao seu apartamento, Marcos voltou a ligar. Sim, ele ligou de novo porque o que ele sentia por ela não era meramente físico, como no caso dela. Ele estava sim apaixonado pela primeira vez em seus 20 anos de vida.
Entretanto, Gabriela não se surpreendeu. Ela sabia o que fazer, porque não era a primeira vez que um homem voltava a ligar depois de ter servido ao seu propósito. Ele a convidava para sair, mas ela geralmente dava desculpas, dizendo que estava com dor de cabeça ou que tinha que estudar. Marcos aceitava isso muito bem. Por que não aceitar? Ele tinha uma namorada agora, não tinha de que reclamar. Ele era o homem mais feliz da face da Terra.
Aconteceu que certa vez ele estava numa grande biblioteca que ficava perto do prédio da faculdade que Gabriela frequentava. Ele gostava de ir áquela biblioteca, porque era muito útil para seus estudos. Olhando os livros da sessão de astronomia, ele achou um livro que não havia ainda visto antes, mas que o deixou muito empolgado. Tratava-se de “O Universo numa Casca de Noz” de Stephen Hawking. Ele lembrou-se de que em certa ocasião Gabriela dissera-lhe que tinha interesse nesse livro, mas não conseguia achar. Ele ficaria muito feliz de poder ajudar. Na mesma hora esqueceu com que objetivo fora á biblioteca, fez o registro do livro que iria levar e partiu para o apartamento de Gabriela, que ele sabia muito bem onde ficava, visto que ela já o havia levado para lá. Ele poderia ter ligado antes pelo celular ou mesmo por um telefone público, mas achou melhor não avisá-la antes para que pudesse fazer uma surpresa. Ele entrou no prédio em que ela morava e pegou o elevador. Quando o elevador se abriu, já havia, do outro lado, um homem bem mais velho, de mais de 30 anos, esperando para pegar o mesmo elevador.
- Olá.
- Boa tarde. - E trocaram de lugar. Marcos saiu e ele entrou. Depois foi até o apartamento de Gabriela e tocou a campanhia.
- Já vou! Já vou! - Ela gritou, lá de dentro. Quando a porta se abriu, deu para ouvir sua voz:
- Esqueceu alguma coi. . . Ah! É você, Marcos, o que faz aqui? - O rapaz não pôde deixar de notar que ela estava de camisola.
- Vim trazer o livro de Stephen Hawking que você disse que queria. Você estava dormindo?
- Não. Por quê?
- Porque você está de camisola. - ele disse, sério.
- Ah! É mesmo, nem percebi. Estou com a mesma roupa desde que me levantei. - Estava mentindo. Mentindo descaradamente. Não era essa a razão dela estar de camisola. Mas dessa vez o incidente passou. Era como se nada tivesse acontecido.
- Muito obrigada pelo livro.
- Sim, mas você terá que me devolver depois para eu renovar o contrato.
- Sem problema.
Assim foram se passando os dias, semanas e meses. Marcos nunca parou de ligar pra ela. Por quê? Geralmente os homens desistiam quando percebiam que ela não iria mais dar atenção. Marcos continuava ligando. Qual era o problema dele? Ele a amava, esse era o problema. E um problema muito maior do que poderia imaginar. Marcos ligou para ela de manhã como fazia sempre.
- Quer ir ao Arcade comigo hoje? Eu te ensino como soltar Hadouken.
- Desculpe, amor. Hoje não posso. Tenho que ir á casa de minha amiga para fazermos um trabalho. - Poderia ter insistido. Poderia ter perguntado se o prazo para a entrega do trabalho era curto e se havia urgência de fazê-lo. Não. Não dessa vez. Era hora de verificar a autenticidade de sua namorada.
- Está bem. Até mais. - Foi tudo o que ele disse. Desligou o telefone sem sequer lhe dar a chance de responder. Quando chegou a tarde, Marcos tomou banho, se arrumou e saiu. Mas não foi ao Arcade. De fato, nem esperava ir. Foi á casa de Gabriela. De surpresa, sem que ela esperasse. Não haveria nenhum motivo para esperá-lo. Ela pensava que ele iria supor que ela estivesse na casa da amiga e ela, por sua vez, supunha que ele estava no Arcade.
Bateu na porta e chamou pelo nome. Não houve resposta. Fez de novo a mesma coisa. Silêncio. Por um momento passou pela sua cabeça que ela falara a verdade e que seria melhor ele ir jogar Street Fighter. Talvez ele tivesse sido feliz se acatasse esse impulso. Mas, ao invés disso, se atreveu a girar a maçaneta. E a porta se abriu! Isso significava, evidentemente, que ela estava em casa. Ou havia se esquecido de trancar a porta. Para sua infelicidade, nenhuma das hipóteses era a correta. Entrou e olhou em volta. Nada. Começou a andar pelos cômodos da casa para verificar se ela estava realmente não estava em casa. Quando chegou ao seu quarto, percebeu que a porta estava entreaberta. Olhou pelo vão e teve, naquele momento, uma terrível decepção!
Gabriela estava sentada na cama de camisola. Mas não estava sozinha, não. Era aquele homem, o mesmo da outra vez, sim, aquele que Marcos vira no elevador. E ela o abraçava e beijava exatamente do mesmo modo como costumava fazer com ele!
Seu semblante mudou. Era um semblante odioso que transmitia um terrível desgosto. Marcos não ficara tão enfurecido desde que vira sua mãe ser estuprada por aquele maldito agiota! Mas dessa vez ele não deixaria ninguém impune. Abriu a porta com violência. A face da Gabriela, ao vê-lo, ficou imediatamente tão pálida quanto um lençol. Nunca sentira tanto medo em toda a sua vida.
- Marcos! - Gritou ela, desesperada. - Pensei que estivesse no Arcade.
- Era o que eu queria que você pensasse, sua meretriz!
- Escute - Gaguejou ela - Espere, por favor, não me odeie por isso. Acontece que eu. . .
- Cale-se! - Disse ele, com violência. E então, voltando-se para aquele homem mais velho que estava com ela, perguntou:
- E você?
- Você é o namorado dela? - Perguntou ele de volta, também assustado com o tamanho e a assombrosa expressão facial da pessoa á sua frente.
- Eu era. - respondeu Marcos. - E agora você não será mais nada. - Ele engoliu em seco ao ouvir isso.
- Espere! - Gritou Gabriela, desesperada e com lágrimas nos olhos, pondo-se entre os dois homens.
- Ele não tem nada a ver com isso. Você não tem que bater nele. Ele não sabia que eu tinha namorado. De fato, eu nunca quis ter. - Desviando o olhar, ela disse - Eu nuca te amei, Marcos. Você não é especial pra mim. Você pra mim é apenas mais um, como ele.
E agora? O que ele iria pensar? Ela o havia usado! Usado e descartado como um brinquedo! Deveria ele ficar triste, decepcionado ou com raiva? Talvez as três coisas, talvez nenhuma das três. A questão é que no meio desse turbilhão de sentimentos o homem perdera a sua capacidade de raciocínio. Ele não mais agiria de forma racional naquele momento. Vociferou como um animal selvagem:
- Então a culpa é toda sua! Vai pagar pelo seu erro agora! - Acertou-a com um golpe na cabeça que a fez gritar desesperadamente.
- Calma, rapaz! Pra que tudo isso? Não precisa machucá-la! - Replicou o outro, tentando defendê-la. Marcos o arremessou para o canto do quarto, dizendo:
- Mais tarde eu cuido de você. - E então voltou-se para sua ex-namorada. A pessoa que ele mais odiava no mundo naquele momento. Golpeou-a de novo e de novo e de novo e de novo. A cada golpe acertado ela gritava demonstrando o seu estado de pânico. Depois de deferidos vários golpes, ela levantou sua face ensanguentada, com os cabelos escorridos por cima dos olhos. Já não tinha mais metade da sua beleza habitual. Gritou o mais forte que pôde:
- Deus, me ajude! - Mas Marcos, disse-lhe, em resposta:
- Deus não vai lhe ajudar, porque ele não existe! - E então continuou a espancar violentamente todas as partes de seu corpo. Ela não tinha mais energias para gritar. Ela apenas sussurrava:
- Não. . . Não. . . Não. . . Não. . - Depois de vários minutos desse horrível sadismo, Marcos, que também estava cansado, sentou-se no chão a sua frente.
- Deus, eu sei que não tenho andado com Você, mas, por favor, seja comigo agora. - Suplicou ela.
- Calada! - Exclamou Marcos, e então aplicou o golpe de misericórdia. Gabriela Silva Martins expirou, enfim.
Os dois ficaram ali, então, por um longo tempo, olhando para o cadáver daquela que fora a garota de seus sonhos. Depois de se passar um longo tempo, Marcos abriu sua boca e disse:
- Ela se redimiu dos pecados no último momento de vida. Ela levou uma vida devassa, mas se arrependeu em sua última chance. O que você acha disso?
- Ela foi apenas uma pessoa que fazia o que bem entendia sem levar os outros em consideração. Ela deve ter sido uma pessoa muito triste. - Limpando as lágrimas de seus olhos, Marcos voltou a perguntar:
- Você acha que Deus a perdoa?
- Não acredito em Deus. - Falou o outro. Ouvindo essas palavras, Marcos abriu um sorriso malicioso.
- Eu também não! - disse ele - E por isso eu não preciso de perdão! - E então se levantou e foi na direção do outro que, percebendo o perigo eminente, levantou-se e correu desesperado para fora do apartamento.
Depois desse dia ninguém mais viu Marcos, ninguém.
O choque foi tão grande que ele foi considerado um maníaco perigoso. Quem o visse deveria avisar a polícia imediatamente. Agora, quando você, leitor, andar pelas ruas, tome cuidado, pois um homem perigoso, com inteligência e força física muito acima do normal está solto pela cidade, e com uma sede insaciável de sangue!
“Escuridão é uma definição que o homem desenvolveu para descrever o que acontece quando não há luz presente. O mal é simplesmente a ausência do bem, é o mesmo dos casos anteriores, o mal é uma definição que o homem criou para descrever a ausência de Deus. O mal é o resultado da humanidade não ter Deus presente em seus corações. É como acontece com a escuridão quando não há luz.”
- Albert Einstein.


**************
Bem, é isso.
Espero que tenham gostado.

Ja ne!
o/

by Mikami-Hime*~

às 11:07 PM

28 comentarios

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[ Perfil ]

Nome: Thata Mikami

Nick: H i m e k o~

Idade:16sai

Niver:10/abril

Amo: tem uns 40 minutinhos e muita paciência pra ouvir? =P

Odeio: eu involui essa capacidade, sorry... ^^"

Anime: atualmente, nenhum... marcantes? varios... mangás? mais que animes...

Considerações gerais: Nyum! O que eu escrevo aqui é tudo coisa da minha cabeça, ou da cabeça de pessoas que gentilmente autorizaram a postagem. Não tenho mto o que falar, anyway. As postagens não são regulares. só pra constar: o blog "É meu espaço, não enche!" é da Tamara... ;)

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