Amanhecia em Konoha. Amanhecia uma manhã primaveril. De certa janela entreaberta, olhos azuis acompanhavam os primeiros raios de sol. O olhar foi desviado para o relógio.

-- Tenho que ir. —disse para as paredes e saiu de casa.

Há algumas semanas havia sido chamado à sala da Godaime. Não que isso fosse estranho, mas em tais circunstâncias – estava no meio de uma missão – era, de certa forma, inquietante. Ainda não acredito nisso, pensou ele, feliz. Não dá para acreditar que...

-- Naruto-kun? Está tudo bem?

Fora acordado de seus devaneios por Hinata, que o olhava preocupada.

-- Tô sim, e você, Hinata?

-- Eu também estou, obrigada por perguntar. – respondeu ela sorrindo, visivelmente encabulada. – Ond...

-- Ah! Desculpa, mas tenho que ir. Tchau, Hinata!! – e saiu correndo.

Após alguns segundos sozinhos novamente tais lembranças vieram à tona. Ao chegar na sala surpreendera Tsunade, como sempre, sentada atrás de sua mesa, Shizune, de pé, ao lado dela, entretanto a outra pessoa presente o deixara desconcertado. Tentando dissimular essa sensação, foi direto ao assunto:

-- Por que mandou me chamar, Obaa-chan?! E por que ele está aqui?! Por que bem no meio da minha missão?! O que é tão urgente?!

-- Cale a boca Naruto!! Se eu te chamei foi por que me deu vontade. Agora já pode ir embora. – disse a mulher de maneira veemente, com um sorriso irônico em seus lábios.

-- Cale a boca você sua velha caquética!! – explodiu Naruto – Vai brincar com outro trouxa, tenho mais o que fazer!! – encaminhou-se para a porta.

-- Por que eu deveria brincar com outro trouxa se o maior deles e o que mais me diverte está agora saindo da minha sala?! – gritou ela. – Agora vamos ao assunto serio, Naruto!

O garoto virou-se e voltou para onde estava.

-- Mandei te chamar porque achei que você gostaria dessa missão. Ele está aqui porque ELE é sua missão. E não se preocupe, Shino tomou seu lugar na que você abandonou. Ele é um shinobi bem capaz e irá concluí-la rapidamente.

-- Como assim ele é a missão?!

-- Simples, quer dizer, simples para pessoas com cérebro, infelizmente esse não é o seu caso. – riu ela, ainda mais após olhar para a expressão de ódio do garoto. – faz alguns anos que ele está cumprindo pena, apesar de todos nós aqui confiarmos nele. Finalmente consegui permissão com o conselho para que ele pudesse cumprir pena alternativa.

-- Pena alternativa?

-- Sim, terei que cuidar da limpeza da academia, sozinho. Além disso, também terei que cozinhar. Sem contar arrumar a casa da Tsunade-sama e suas roupas – respondeu Sasuke, ocultando a felicidade que sentia.

-- Ah... e o que eu tenho com isso?! – perguntou Naruto, visivelmente confuso.

-- Obviamente o conselho não teria aprovado a pena alternativa que eu criei (e que é bem leve ne) se ele fosse fazer tudo sem acompanhantes.

-- EU VOU TER QUE AJUDAR?!?!?! – perguntou Naruto, sua felicidade secreta se esvaindo.

-- Obviamente não, baka. – respondera o outro, sua voz sem emoção ocultando a alegria que sentia ao ver que nada havia mudado, nem entre eles nem na vila.

-- Sua nova missão é acompanhá-lo.

-- Acompanha-lo?

-- Sim, baka!! Você irá proteger a vila de sua ameaça constante. – disse ela, rindo, feliz. – Aceita sua missão?

-- Sim.

Parou. Tocou a campainha.

-- Anda logo, Sasukeee!!!

-- Quem ta enrolando é você, seu idiota. – riu ele ao ver que Naruto assustara.

-- Desde quando você ta ai?!

-- Faz pouco tempo. Te vi chegando então resolvi já ficar aqui fora. Mas você estava tão pensativo que resolvi deixar você com seus botões. Em que pensava?!

-- Não é da sua conta. – respondeu ele, fingindo irritação, depois caiu na risada – Tava lembrando do dia que recebi a missão.

--Ah... – respondeu ele, sem interesse.

-- Vamos logo!!

O dia transcorria como sempre. Primeiro foram à academia. Sasuke varreu, tirou pó, passou pano, lustrou as carteiras, limpou os apagadores, tirou o lixo. Quando era quase meio-dia ele fez o almoço: shirogohan e salmão grelhado. Lavou os banheiros, aparou a grama e, quando deu cinco da tarde, concluiu a academia. Foram ao Ichiraku.

-- É bom poder respirar livre assim ne? – perguntou Naruto.

-- A única parte ruim é ter que agüentar um estorvo como você. – riu Sasuke.

-- Cale a boca Sasuke, sem mim você não vive!! – disse ele, também rindo.

-- É... — respondeu o outro – é a mais pura verdade.

Silêncio.

Foram à casa da Tsunade. Era uma casa grande. Cinco quartos, sendo dois quartos suítes, duas salas, uma megacozinha, três banheiros, um grande quintal, um jardim impecável.

-- Não sei pra quê a Tsunade-no-Baa-chan tem uma casa tão grande. Quem mais mora com ela? Seria o Ero-sennin?? – assombrou-se Naruto.

-- Cale a boca idiota! Você não tem nada com isso!

Foram para o andar de cima, onde ficavam os quartos. Sasuke começara a limpeza pelo quarto da Tonton, alegando que era o mais fácil de limpar.

-- Come pode ser mais fácil limpar o quarto de um porco que o de uma sessentona?! – reclamou Naruto.

-- Problema delas, mas é estranho mesmo. – respondeu, enquanto terminava. – Vamos para o quarto da Tsunade-sama.

Ao entrarem, diferente da primeira vez, que ficaram muitíssimo surpresos tanto pelo tamanho, quanto pela bagunça quanto pela cama de casal, eles apenas chutaram algumas roupas do caminho.

-- Como pode!! Você arrumou isso aqui ontem!!

-- Não que isso te importe. Não é você que arruma.

-- A Sakura-chan já soube?

-- Soube do que? – perguntou Sasuke com indiferença, já sabendo a resposta.

-- Soube que você pediu a Ino em namoro assim que pode respirar a liberdade.

-- Ah... Soube sim. Chorou muito, mas... eu não poderia ficar com ela, apesar de sua beleza e inteligência.

-- O que te impede?

-- Você gosta dela e...

-- E...?!

-- Deixa pra lá. – respondeu ele sem emoção, voltando a seus afazeres.

Horas passaram-se naquela casa, que, com o passar do tempo, tornava-se mais limpa. Horas intermináveis para Naruto, que se perguntava qual o verdadeiro motivo pelo qual seu melhor amigo havia magoado Sakura. Sempre achei que ele também gostava dela, pensava, sempre soube que nunca tive chance, sempre procurei deixar o caminho livre. O que o impede?

Para Sasuke, o tempo passava rápido. Fora assim desde que começou a cumprir pena alternativa, afinal, quando estamos felizes o tempo parece correr. Estou feliz agora, divagava, por poder estar com meus amigos, por ter sido bem recebido. Por que não sinto real remorso por ter magoado Sakura? Por que resolvi namorar Ino sem sentir nada por ela? Não importa, finalmente acabei aqui.

-- Sasuke. – assim que obteve atenção, continuou – o que você acha de ir lá pra casa, pra gente beber um pouco e dar risada?!

A idéia o atraía e ele se sentia um caco. Aceitou o convite na hora. Precisava mesmo conversar com seu amigo e umas doses de sake seriam extremamente bem-vindas.

-- Então, como se sente agora, sendo livre?! – começara Naruto, ao entrarem em seu apartamento.

-- Tive certo medo, no começo, mas agora eu me sinto ótimo. – respondeu, se espreguiçando e servindo mais sake para ambos. – A vila continua igual, as pessoas também. Como está Hinata? – as segundas intenções de sua voz soaram claramente, mas, em seu íntimo, algo o deixara completamente inseguro.

-- Ela está bem, começou a gostar do Kiba e agora eles estão juntos. – respondeu.

Sem saber por que, Sasuke sentiu um alivio anormalmente grande com a resposta.

--... você que tem sorte – ouviu Naruto dizer – vaaarias garotas dariam tudo, com apenas um pedido seu. Agora você ta com a Ino. São felizes juntos?

Não houve resposta.

-- Falei com você, baka!!! Já ta bêbado é?!

-- Não estou bêbado.

Continuaram a beber e dar risada, ambos sabendo que a pergunta ficara sem resposta e ambos querendo saber tal resposta.

Muitas e muitas doses depois, a pergunta volta a ser feita.

Sasuke, já meio bêbado, responde:

-- O que importa?! – tomando mais uma dose, e servindo seu amigo.

-- Eu só preciso saber.

-- O que isso muda na sua vida, porra?!

-- Muda muito!! Muda tudo!

-- Se você quer saber, tudo bem...

-- Responde então!

Silêncio. Minutos intermináveis passaram enquanto eles se encaravam, sentados no chão.

-- Responda-me o que muda – disse Sasuke quebrando o gelo – e respondo se estamos felizes ou não.

-- Eu perguntei primeiro.

-- Não tenho nada com isso.

-- Quer saber, foda-se! – gritou Naruto – só perguntei isso porque tenho uma esperança ridícula!!

-- Esperança de que? – perguntou Sasuke, confuso.

-- Esperança de ter meu sentimento correspondido!! – explodiu o garoto, ficando de pé e derrubando o frasco de sake.

-- Que sentimento?! – perguntou o outro, levantando-se também.

-- EU TE AMO! É SÓ ISSO!!!

- Só isso? Poxa, eu também te amo, cara. Somos como irmãos, esqueceu? – provocou.

-- NÃO TO FALANDO DISSO!!! EU TE AMO!! TE AMO COMO... como... – Naruto virou-se, não queria terminar a frase.

De repente, o garoto-raposa sentiu o suave toque da mão de seu amigo subindo por suas costas. Virou-se. Viu os olhos dele encarando os seus de forma enigmática. Sem entender, começou:

-- O que voc...

Fora interrompido. A melhor interrupção da sua vida. Os lábios de Sasuke tocaram os seus de forma doce e romântica. Um beijo com gosto de sake. Agora Naruto estava completamente confuso, mas não notava tal confusão nos olhos que o encaravam enquanto os dois amigos aproximavam-se. Encostado na parede, sem ter para onde fugir e sem querer fugir, sentiu novamente o gosto de sake em sua boca. Mãos habilmente começaram a abrir sua jaqueta. Estas mesmas mãos lhe abriram a calça. O beijo não terminava nunca, sensações misturavam-se, dando ao momento um ar mágico. Deitaram-se ali, no chão da sala, livres de preocupação.

Não acredito que fiz isso, pensava Sasuke, enquanto vestia as calças. Tudo bem, quando amanhecer ele sequer terá lembrado do que houve essa noite. Sorriu um sorriso terno e enigmático. Não importa, eu não me esquecerei e, só de ter essa certeza, sei que minha vida vale a pena. Saiu do apartamento de Naruto sem olhar para trás, o sorriso ainda brincando em seus lábios.

by Mikami-Hime*~

às 1:10 AM

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